200 funcionários na rua e sinal desligado: Fim abrupto de emissora de TV devasta RJ após fracasso

Emissora de TV histórica virou uma promessa que brilhou por apenas cinco meses e seu sinal desligado culminou em 200 demissões

25/04/2025 8h00

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Emissora de TV não durou nem um ano e acabou tendo o sinal desligado de forma abrupta (Foto Reprodução/Montagem/Tv Foco/Canva/)

Emissora de TV histórica virou uma promessa que brilhou por apenas cinco meses e seu sinal desligado culminou em 200 demissões

A televisão sempre foi mais do que entretenimento no Brasil. Ela moldou comportamentos, construiu identidades e, por décadas, foi a principal ponte entre o mundo e a sala de estar do brasileiro.

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Algumas emissoras tornaram-se verdadeiros ícones afetivos — como a Tupi, Manchete, Excelsior e tantas outras que marcaram gerações.

No entanto, nem todas resistiram. Algumas redes, mesmo lançadas com pompa e altos investimentos, sumiram do mapa em pouquíssimo tempo.

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A TV JB é talvez o mais emblemático desses casos recentes: um projeto grandioso, lançado com a força simbólica do Jornal do Brasil, mas encerrado de forma abrupta e silenciosa em menos de seis meses.

Sendo assim, a partir de informações divulgadas pelo portal Wiki, a equipe especializada em história da TV, do TV Foco, traz todos os detalhes dessa despedida relâmpago e os motivos por trás do seu fracasso, o qual devastou milhares de telespectadores no Rio de Janeiro, RJ.

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Um nascimento ambicioso

No dia 17 de abril de 2007, nascia a TV JB, fruto do investimento do empresário Nelson Tanure, dono da Companhia Brasileira de Multimídia (CBM):

  • Transmitida inicialmente por meio de uma parceria com a CNT, a nova emissora estreou prometendo uma revolução na TV aberta.
  • Ela tinha um foco em jornalismo crítico, conteúdo de qualidade e uma estética mais próxima da TV por assinatura.
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Logo da TV Jornal do Brasil (Foto: Reprodução/Internet)

Logo no primeiro dia, o canal entrou no ar com Na Rua, voltado ao público jovem, e o Telejornal do Brasil, apresentado por Boris Casoy.

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A proposta era clara: fugir da “TV fácil” e apostar em conteúdo sofisticado, informativo e inteligente. Um nascimento bem ambicioso para os moldes da época.

A pressa é a inimiga da perfeição

A estrutura montada impressionava: sedes no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.

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A grade prometia seis horas de produção própria diária. A CBM investiu pesado e previa filiações com 66 emissoras em todo o país.

Nas palavras do próprio Nelson Tanure, a TV JB tinha potencial para se tornar “a terceira maior rede de televisão do Brasil”.

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Emissora deixou de existir em menos de um ano (Foto: Reprodução/Internet)

De fato, no papel, tudo fazia sentido, mas, na prática, os primeiros problemas surgiram com a mesma pressa com que a equipe ergueu os estúdios.

Crise, calote e caos nos bastidores

Menos de dois meses após a inauguração, em maio de 2007, já se falava em salários atrasados.

Além disso, programas sumiam da grade sem aviso:

  • A novela Coração Navegador — dublada e rebatizada pela emissora — saiu do ar sem exibir o final.
  • O canal enfrentava também problemas técnicos sérios: em São Paulo, sua audiência cravou 0,1 ponto no IBOPE, reflexo de um sinal fraco e instável.

A instabilidade contagiava a grade, a gestão e os bastidores:

  • Estúdios deixaram de ser pagos;
  • Compromissos eram rompidos;
  • Demissões começaram a surgir.

Para piorar, a relação com a CNT azedou rapidamente e, em setembro, a Justiça autorizou o corte do sinal da emissora por inadimplência.

TVJB tinha uma proposta diferente mas acabou fracassando ao tentar executar (Foto Reprodução/Montagem/Blogger
Midia clipping)
TVJB tinha uma proposta diferente mas acabou fracassando ao tentar executar (Foto Reprodução/Montagem/Blogger Midia clipping)

A tentativa frustrada de sobrevivência pela Rede Brasil:

Na tentativa desesperada de manter o canal vivo, a TV JB migrou sua programação para a Rede Brasil no dia 10 de setembro de 2007.

A parceria, porém, durou só uma semana. A CBM alegou problemas técnicos na nova rede, que não atenderia às necessidades comerciais da emissora.

A emissora encerrou oficialmente o projeto pouco tempo depois e demitiu 200 funcionários — muitos sem receber os direitos rescisórios.

Essa decisão selou de vez o fracasso da empresa e o silêncio que tomou conta das sedes da emissora foi mais eloquente do que qualquer nota de encerramento.

O “mico do ano” e a mancha na história do JB:

Vale dizer que a imprensa não perdoou na época. Em matéria publicada no fim de 2007, o jornal O Globo classificou a aventura da TV JB como o “Mico do Ano”.

O grupo CBM, ainda em setembro, tentou comprar outras emissoras para relançar o projeto, mas nenhuma proposta foi adiante.

O impacto para os profissionais foi devastador; entre eles, jornalistas, técnicos, apresentadores e produtores perderam seus empregos.

Muitos sem sequer conseguirem incluir em seus currículos os programas em que trabalharam — já que muitos deles sequer foram ao ar.

Por que a TV JB foi criada?

Vale dizer que a criação da TV JB retomava um sonho antigo do Jornal do Brasil, que desde os anos 1950 tentava entrar no mercado televisivo.

Ao longo das décadas, diferentes grupos tentaram em vão manter o projeto de pé, mas acumularam apenas tentativas frustradas, perderam concessões e interromperam sucessivos projetos.

Quando finalmente o canal se concretizou, não durou sequer 180 dias, tendo assim o seu sinal desligado.

Mas, entre os programas que foram ao ar, destacaram-se:

  • Por Excelência, com Clodovil Hernandes;
  • Verso & Reverso com Augusto Nunes;
  • O feminino Manhã Mulher;
  • O musical Café & MPB;
  • O jornalístico Repórter JB.

A maioria, no entanto, passou despercebida pelo público — seja pela baixa audiência, seja pela curta exibição.

Conclusão:

Em suma, a história da TV JB marcou de uma forma amarga a história da televisão brasileira.

Um projeto que começou com ambição, boas ideias e nomes de peso, mas foi engolido por má gestão, promessas descumpridas e decisões precipitadas.

Mais do que isso, é um epitáfio para os 200 profissionais que apostaram, trabalharam, criaram — e foram deixados na mão. Porque, no fim das contas, televisão é feita de gente. E gente não se apaga com o controle remoto.

Mas, para saber mais sobre histórias e falências envolvendo emissoras, clique aqui*

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Autor(a):

Jornalista com formação em Moda pela Universidade Anhembi Morumbi e experiência em reportagens sobre economia e programas sociais. Com olhar atento e escrita precisa, atua na produção de conteúdo informativo sobre os principais acontecimentos do cenário econômico e os impactos de benefícios governamentais na vida dos brasileiros. Apaixonada por dramaturgia e bastidores da televisão, Lennita acompanha de perto as movimentações nas principais emissoras do país, além de grandes produções latino-americanas e internacionais. A arte, em suas múltiplas expressões, sempre foi sua principal fonte de inspiração e motivação profissional.

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