
Mario (Bruno Gagliasso) e Alice (Giovanna Antonelli) em cena de “Sol Nascente”
(Foto: Globo/Ramón Vasconcelos)
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Os autores da nova novela das seis da Globo, “Sol Nascente”, falaram sobre a trama, que estreou nesta segunda-feira (29), e revelaram como é o processo de desenvolvimento a três.
Natural de Avaré, no interior de São Paulo, Walther Negrão se mudou para a capital aos 14 anos de idade. Estudou dramaturgia e chegou a trabalhar como figurante e ator em algumas novelas na antiga TV Tupi. Na década de 1960, escreveu “Antonio Maria” e “Nino, o Italianinho”, dois grandes sucessos de sua carreira. Na Globo, estreou em 1970 e entre suas obras estão: “Pão-Pão, Beijo-Beijo” (1983), “Livre Para Voar” (1984), “Fera Radical” (1988), “Top Model” (1989), “Despedida de Solteiro” (1992) “Tropicaliente” (1994), “Anjo de Mim” (1996), “Era Uma Vez” (1998), “Vila Madalena” ( 1999 ), “Como Uma Onda” (2004), “Desejo Proibido” (2007), “Araguaia” (2011), e “Flor do Caribe” (2013). Assinou as minisséries “O Sorriso do Lagarto” (1991), “A Madona de Cedro” (1994), “A Casa das Sete Mulheres” (2003), em pareceria com Maria Adelaide Amaral, e a série “Carga Pesada” (2002), entre outras. “Sol Nascente” é a 39º novela em 52 anos de carreira.
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Júlio Fischer é formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo na USP (FAU), com pós-graduação em Artes Cênicas e mestrado em História do Teatro, também pela USP. Ingressou na TV Globo através do curso da Oficina de Roteiristas há 19 anos e, desde então, passou a integrar a equipe de vários programas. Em 2001, assinou o episódio de “A Sonata”, do programa “Brava Gente” (2001), sua estreia na dramaturgia. Em seguida, colaborou em diversas novelas como “Coração de Estudante” (2002) “O Profeta“ (2006), “Eterna Magia” (2007), “Cama de Gato” (2009), e “Cordel Encantado”. A parceria com Walther Negrão começou em “Era Uma Vez…” (1998), depois seguiu em “Vila Madalena” (1999), “Desejo Proibido” (2007), “Araguaia” (2010) e “Flor do Caribe” (2013). “Sol Nascente” é a primeira novela em que assume a função de autor, ao lado de Walther Negrão e Suzana Pires.
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Formada em filosofia pela PUC-RJ, Suzana Pires é atriz e autora. Foi revelada como atriz e também como autora no teatro com a peça “De Perto, Ela Não é Normal”, em cartaz há dez anos. Em Los Angeles cursou o Showrunner Drama Series, tendo como professores Chad Hodge (criador de “Wayward Pinnes”), Peter Blake (criador de “Hemlock Grove”) e Carol Flint (criadora de “Royal Pains”). Em 2010, foi convidada não só para atuar como também escrever para produções da Globo. Foi colaboradora de Marcius Melhem no seriado “Os Caras de Pau” e de Walther Negrão na novela “Flor do Caribe”. “Sol Nascente” é a primeira novela que assina como autora, ao lado de Júlio Fischer e Walther Negrão.
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Júlio Fischer, Walther Negrão, Leonardo Nogueira, Susana Pires e diretor de “Sol Nascente” na coletiva da novela
(Foto: Globo/Mauricio Fidalgo)
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Sol Nascente é uma história de amor embalada pela força dos laços familiares. A novela mostra também a força da amizade que ultrapassa gerações e a mistura de culturas. Onde foram buscar inspiração pra escrever essa história?
Walther Negrão: Por coincidência foi o tema que eu abordei na minha primeira peça, “O Quadro Sem Moldura”, em 1959, muito antes de existirem as novelas. Também falei sobre as amizades, os problemas familiares… Agora incluindo ainda toda a vivência desde os anos 1950 até agora e retratando meus vizinhos italianos, que foram muitos, e meus compadres japoneses. Na década de 1960, fui morar na Liberdade, que é um bairro oriental japonês de São Paulo, e me cerquei de muita gente. E já tinha vivido nos bairros italianos, comido muito pasta. Quando resolvi fazer uma novela sobre famílias era inevitável incluir a italiana porque acho que é a que mais me remete à relação familiar passional. E conversando com o Júlio Fischer surgiu a ideia sobre os japoneses. Aí eu disse: bingo! Vamos falar sobre essas duas grandes culturas, calcando também na minha origem italiana por parte de mãe. Então, veio Suzana com sua alegria, sua juventude e humor. Uma vivência mais nova do que a minha e de Júlio, mais descolada, e inserimos as motocicletas e toda a gama de jovens da novela.
Júlio Fischer: A novela trata de uma história de amor entre Mario e Alice e sobre suas famílias. A dele, que veio da Itália, e a dela que, por parte de pai, veio do Japão há mais de 50 anos. A partir dessa história, vamos falar de relações familiares, relações de amizade e relações humanas de uma forma geral. Algumas referências nos serviram de inspiração, como o cinema italiano surgido no pós-guerra e, do lado japonês, a obra sensível e profundamente humana de cineastas como Mizoguchi e Yasujiro Ozu. A essas referências se juntaram outras tantas, da cultura pop, uma vez que a novela traz também o universo da praia, do motociclismo etc.
Suzana Pires: Temos um eixo central, que é a história de amor de Mario e Alice, amigos de infância que cresceram juntos, em função da amizade entre essas duas famílias que são os pilares de nossa história – ele neto dos imigrantes italianos e ela, filha adotiva do imigrante japonês. Em todos os núcleos, temos as relações humanas presentes e bem destacadas, o que é sempre uma grande fonte de inspiração.
Famílias italiana e japonesa em Festa Italiana na estreia de “Sol Nascente”
(Foto: Globo/João Miguel Júnior)
Vocês já haviam trabalhado juntos em Flor do Caribe, sendo que Júlio Fischer e Suzana Pires na função de colaboradores. Em que essa experiência anterior auxilia agora no trabalho de vocês?
Walther Negrão: Eu tive parceiros com quem aprendi muito e não custa passar essa experiência pra quem está começando. Ninguém acaba sabendo quem deu a ideia, quem fez ou escreveu determinada trama ou história. Um lança a ideia e os demais complementam. Vira um produto de todos. Há uma química muito boa entre nós.
Júlio Fischer: Eu trabalho com o Negrão desde que entrei na Globo há 19 anos. Com a Suzana desde “Flor do Caribe”. A sintonia é vital para que o processo de trabalho transcorra de uma forma tranquila. Somos muitos diferentes entre nós, porém essas diferenças somam e não geram atritos. E Negrão conhece tudo de televisão, nos passa muita segurança. É uma inspiração. A gente se gosta muito e tem muita afinidade.
Suzana Pires: Eu sinto a responsabilidade da titularidade com muita alegria. Somos três para mexer naquela ideia. Pensar no que é o melhor para o público. É um exercício artístico. Para criar a novela, tivemos várias etapas. A gente se admira e cresce com a nossa diferença. Gosto de me alimentar da calma do Júlio, e ele da minha loucura, e nós todos da alegria do Negrão.
Como é o processo de criação a três para o desenvolvimento das histórias?
Walther Negrão: Nosso processo de trabalho é muito democrático. Fazemos reuniões, brainstorms, colocamos as ideais na mesa. E temos um pacto: se alguém não gostar da ideia do outro, não pode defender tese. Tem de pôr outra coisa no lugar. Não perdemos tempo. Pegou na “veia” dos três, a ideia é boa. Se não, descartamos. Além disso, somos alegres por natureza. Não tem estresse. E eles gostam de me ouvir falar sobre experiências antigas. É uma troca muito boa.
Júlio Fischer: O trabalho entre nós três foi plantado na época de “Flor do Caribe”. Temos reuniões semanais. Não existe um autor que escreva só para um núcleo. Nós escrevemos para todos os núcleos e isso proporciona uma sintonia muito grande.
Suzana Pires: É uma criação em conjunto. Nas reuniões semanais de criação discutimos como vai acontecer, quais são os passos dos conflitos dos personagens. O segredo pra tudo dar certo é essa energia positiva que o Negrão traz pra gente.
Assim como vocês três estiveram juntos em “Flor do Caribe”, Leonardo Nogueira também era o diretor-geral. Como é repetir essa parceria?
Walther Negrão – Temos uma afinidade muito grande com o Leo. E isso começou há muitos anos e se fortaleceu em “Flor do Caribe”, quando ele assinou a direção-geral. Estamos sempre em contato, conversando, e essa proximidade facilita muito a produção da novela. Ele sabe como conduzir a nossa história e estamos sempre avaliando juntos os caminhos a seguir.
Júlio Fischer – Quando temos essa parceria, a confiança no trabalho do diretor é fundamental para o desenvolvimento do nosso trabalho. A troca de ideias, de sugestões, é sempre muito boa. Antes mesmo do início das gravações já sabíamos como seria a nossa cidade cenográfica, o que teríamos à disposição para explorar no texto e isso é muito enriquecedor. Tudo é conversado e feito em parceria. Escalação, música, luz, referências, cenário… Isso gera uma confiança incrível.
Suzana Pires – A parceria com o Leo é maravilhosa. Essa relação estreita dos autores com o diretor é muito produtiva. Participamos de todas as leituras de texto dos núcleos junto com o elenco e direção, nos reunimos para definir e fazer os ajustes na produção, acompanhamos juntos a edição… É uma troca essencial. Jogamos muito juntos!
A novela traz atores que já trabalharam nas novelas de Negrão em outros momentos. Tem gente também que estreou em novelas de Negrão. Como foi a escalação para Sol Nascente?
Walther Negrão – Costumo dizer que Sol Nascente é uma novela de grandes reencontros. Temos, por exemplo, a Leticia Spiller, que estreou comigo em “Despedida de Solteiro”, a Giovanna Antonelli que surgiu na TV em “Tropicaliente” e pessoas que estão comigo desde sempre como a Laura Cardoso. Tenho orgulho de dizer que fui o responsável por trazê-la da Tupi para a Globo, há muitos anos, e desde então tenho a honra de contar com ela em todas as minhas novelas. Além disso, temos Francisco Cuoco, que atuou na minha primeira peça “O Quadro Sem Moldura”, em 1959, fazendo também um italiano, e Aracy Balabanian, que brilhou em “Nino, o Italianinho”, ou seja: uma turma maravilhosa.
Júlio Fischer – Acho que conseguimos reunir um time bem bacana. Muitos já trabalharam com o Negrão há anos como a Laura Cardoso e o Francisco Cuoco, por exemplo, enquanto outros estão chegando agora. Todo o processo foi pensado em conjunto e avaliado por nós três junto com o Leo.
Suzana Pires – O Negrão tem uma característica incrível que é escutar as pessoas. Isso é um segredo para o autor, que antes de ver o ator interpretando já consegue “ouvir” ele lendo o texto. É um processo que facilita pra nós, autores, a construção dos personagens e a escalação.
As relações de amizade se estendem por todos os núcleos e a própria cidade, Arraial do Sol Nascente, é bastante acolhedora. Italianos, japoneses, caiçaras, os frequentadores do Rota 94 e da pousada Marseille se relacionam de alguma maneira. Podem falar um pouco sobre isso?
Walther Negrão – Uma cidade acolhedora proporciona essa circulação. Desta vez, por exemplo, temos uma família de italianos numa cidade de praia interagindo com os japoneses, com as caiçaras… Apesar de pessoas diferentes, com culturas distintas, todos convivem de forma harmoniosa.
Júlio Fischer – A primeira semente da novela foi a amizade e as relações familiares. Logo esse leque se abriu e vamos abordar as relações humanas de maneira geral. Por trás de todas essas relações que veremos se estabelecerem na novela, muitas delas são entre pessoas diferentes do ponto de vista social, econômico, cultural ou étnico. E todos convivem em harmonia.
Suzana Pires – O contato com quem é diferente de nós, só pode alargar a nossa visão de mundo, nos tornar melhores. E esta diversidade de culturas, de tradições que temos nas tramas dos personagens reforça ainda mais esta questão.
O que o público pode esperar de Sol Nascente?
Walther Negrão: Uma história de amor e amizade sobre famílias e para a família. Com a transposição de grande amiga para namorada. E a luta deles para se encontrarem como homem e mulher.
Júlio Fischer: O público pode esperar uma novela escrita com muita verdade e afeto. Uma história que trata de amor, amizade, de sensibilidade. Vamos tratar de relações familiares e temos o desejo que o público se identifique também.
Suzana Pires: É uma novela de amor, amizade e rock’n’roll. Temos essas três características que formam um bom caldeirão. É uma linda história de amor entre amigos. E temos relações de amizades em todos os personagens e núcleos. A vida na estrada, o Bar Rota 94, que também tem personagens com questões de família e amizade fortes. É uma novela com sentimento e calor.