
A autora Manuela Dias no ‘Ofício em Cena’, da GloboNews
(Foto: Globo/João Miguel Júnior)
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Aos olhos do grande público, Manuela Dias pode não ser ainda tão conhecida, mas a jovem e experiente autora, que há 20 anos escreve para teatro, cinema e TV, encanta o público logo nas primeiras palavras e o seduz para mergulhar no universo que constrói para seus personagens. Foi assim em ‘Ligações Perigosas’ e agora na minissérie ‘Justiça’, que conquistou o horário nobre da Globo. Manuela concedeu entrevista à Bianca Ramoneda no ‘Ofício em Cena’, na GloboNews.
Manuela pratica o que chama de “dramaturgia de rua”, a conversa comum, a intimidade dos grandes e dos pequenos eventos – seja o sentimento do rei no dia da coroação ou o sofrimento que o vendedor de cafezinho está vivendo naquele dia de trabalho. No início da carreira, ela adotou uma estratégia inusitada para ouvir boas histórias: levou uma placa para o centro do Rio de Janeiro, um gravador de áudio e muitas moedas de R$ 1 no bolso e pagava com uma moeda por cada história que quisessem lhe contar. Fez isso durante quase dois anos. “O que mais me interessa é a intimidade da história: como o rei acordou no dia da coroação? Busco a intimidade para mostrar como todos nós somos protagonistas das nossas histórias”, explica a roteirista.
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Ela também revela na entrevista como são as etapas desse processo. Manuela gosta de trocar ideias com sua equipe, mas considera o diálogo uma parte pessoal e intransferível do processo: “Eu sempre brinco, Hamlet é ‘Ser ou não ser’, não é o cara que quer vingar a morte do pai porque o tio casou com a mãe. Quantas pessoas sabem da história do Hamlet? Mas todo mundo sabe que ‘Ser ou não ser, eis a questão’. Tanto que eu falo para os atores: ‘Não mude sem falar comigo, me mande sua dúvida e eu retrabalho. Porque, pra mim, o processo é vivo até a edição. Não é um escritor que está lá longe, encastelado, e ele vai mandar o seu texto. Não, eu estou viva o tempo todo”, conta. A autora conta ainda que as cenas já gravadas e editadas enviadas a ela pelo diretor a alimentam muito e revela que já reescreveu algumas coisas em cima de cena que viu. “Ou porque a atriz fez uma coisa genial, brilhante, que eu jamais poderia pensar, ou uma luz sugestiva, uma direção que caminha com o negócio para o outro lado.”, exemplifica.
Manuela conta ainda que ‘Justiça’ nasceu quando uma funcionária de sua casa sofreu uma injustiça muito parecida com a da personagem de Adriana Esteves na trama. O marido dela tinha sido preso por matar o cachorro do vizinho, que invadia o seu terreno e comia os seus patos. “O que eu gostaria com a minissérie é que a gente consiga se colocar no lugar do outro, um ótimo exercício de transposição que a dramaturgia nos proporciona”, comenta.
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Em Cuba, Manuela Dias foi uma das nove alunas da última turma de cinema de Gabriel García Márquez, Prêmio Nobel de Literatura e autor de grandes livros, como ‘Cem Anos de Solidão’. Com ele, Manuela aprendeu a extrair o que é realmente interessante de uma história. “Ele me passou muito isso, essa coisa de: ‘Cual es la buena?’. Essa história não me dá tesão, essa história não me faz imaginar nada, essa história não me transporta, essa história não me interessa. Tem gente que é tão bom de contar história, que pode contar a coisa mais banal do mundo e você vai curtir. Enquanto a outra pessoa, que é mala, sem empatia, pode contar uma história interessantíssima, mas você vai dormir. A história que merece escuta é um pacote muito complexo, entre empatia, personagem, modo de falar e a própria história”, resume a autora.
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