Pela terceira vez, Justiça decreta a falência de uma das varejistas mais amadas de São Paulo; Entenda os motivos, dívidas e o que pode acontecer agora
E, pela terceira vez, uma das varejistas mais amadas da cidade de São Paulo tem a sua falência decretada em outubro de 2025. Trata-se da Livraria Cultura, que, por décadas, foi um dos espaços mais emblemáticos e amados da cena cultural brasileira.
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Fundada em 1947 por Eva Herz, a marca se consolidou como ponto de encontro entre leitores, artistas e intelectuais. O ambiente das suas lojas, especialmente o do Conjunto Nacional, shopping famoso da Avenida Paulista, abrigou lançamentos, saraus e debates.
De acordo com o portal Estadão, a Justiça de São Paulo decretou a falência dessa vez, por decisão do juiz Adler Batista Oliveira Nobre, da 2ª Vara de Falências e Recuperação Judicial.
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Após passar por fechamentos e adeus a grandes shoppings, agora as últimas três unidades ativas na capital – em Higienópolis, Pinheiros e Vila Leopoldina – foram fechadas por ordem judicial.
No entanto, embora algumas fontes relatarem que o site saiu do ar, ao acessar na data de hoje (07), ele segue ativo.
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Além disso, as suas redes sociais também, embora os comentários estejam aparentemente desativados – Conforme podem ver por aqui*.
A decisão foi motivada por um novo pedido de falência, independente da recuperação judicial iniciada em 2018, e representa mais um golpe na tentativa da empresa de se reerguer.
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Um eterno “cai e levanta”
Lembrando que a trajetória recente da Livraria Cultura reflete o esgotamento de um modelo de negócios que não resistiu à transformação digital do mercado editorial.
Em outubro de 2018, a rede entrou em recuperação judicial, declarando dívidas de R$ 285 milhões. O juiz Marcelo Barbosa Sacramone aceitou o pedido, e o plano foi aprovado em abril de 2019.
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Entre as medidas para aliviar o caixa, a empresa vendeu a Estante Virtual, a qual era uma de suas últimas fontes de receita, ao Magazine Luiza em 2020.
Ainda assim, o negócio não sustentou a operação. Em 2023, a Justiça decretou a primeira falência da companhia, revertida após recurso que contou com o apoio público de escritores e artistas.
Poucos meses depois, em maio do mesmo ano, o Tribunal de Justiça de São Paulo voltou a determinar a falência.
Mais uma vez, a empresa conseguiu suspender a decisão por meio de uma liminar no Superior Tribunal de Justiça (STJ), que ainda segue em tramitação.
Apesar das dificuldades, a Livraria Cultura tentou se reinventar.
Em abril de 2024, encerrou a loja histórica do Conjunto Nacional, símbolo da marca, deixando para trás uma dívida milionária em aluguéis.
Mas, em outubro daquele ano, a companhia inaugurou uma nova loja em um casarão tombado em Higienópolis, buscando resgatar a tradição e o vínculo afetivo com os leitores.
Poucos meses depois, a rede inaugurou mais duas unidades menores:
- Pinheiros;
- Vila Leopoldina.
Apostando assim em um modelo de operação compacta, com curadoria de títulos e cafés integrados.
A estratégia, no entanto, não foi suficiente para conter o avanço das dívidas e o enfraquecimento do fluxo de caixa.
A nova queda…
A terceira decretação de falência, em outubro de 2025, partiu da empresa Bombonieres Ribeirão Preto, locatária do imóvel ocupado pela livraria no Conjunto Nacional.
A autora afirmou que a empresa deixou de pagar os aluguéis referentes a agosto e setembro de 2023, totalizando R$ 1.065.314,43.
Além de, posteriormente, inadimplir crédito extraconcursal de R$ 27.494.378,78.
Na decisão, o juiz Adler Nobre ressaltou que o caso é autônomo em relação à recuperação judicial de 2018.
Ele destacou que o efeito suspensivo concedido pelo STJ, mas que ainda analisa o recurso da falência anterior, o que não se aplica a esta nova ação.
Com a sentença, o magistrado determinou o bloqueio de bens e contas da empresa, que segue formalmente em recuperação judicial sob a administração da Laspro Consultores.
A defesa da Livraria Cultura
De acordo com a PublishNews, a Livraria Cultura alegou que realizou pagamentos superiores a R$ 1 milhão em 2023. O juiz, no entanto, considerou que os valores não satisfazem as obrigações assumidas com a parte autora.
O CEO Sérgio Herz não se pronunciou publicamente até o momento, mas o espaço segue em aberto, se assim lhe for conveniente, pronunciar sobre o caso.
Segundo apuração do Estadão e do PublishNews, a empresa aguarda uma decisão liminar que possa suspender os efeitos da nova decretação de falência nos próximos dias.
Nos últimos dias de setembro, a direção da Cultura comunicou a autores e parceiros o cancelamento de eventos e lançamentos programados para outubro.
Em manifestação exclusiva ao Publish, a jornalista Heloísa Paiva, que lançaria um livro na loja de Higienópolis, lamentou o desfecho:
“O cancelamento da minha tarde de autógrafos não é nada perto da tristeza de ver essa icônica livraria, devidamente instalada num casarão tombado, renunciar ao compromisso com parceiros e colaboradores”.
Consequências do desgaste e resistência
Mesmo após sucessivas tentativas de recuperação, a Livraria Cultura enfrentou dificuldades estruturais que refletem a crise mais ampla do setor livreiro.
No entanto, alguns fatos ajudaram a minar o espaço para essas redes tradicionais como:
- A retração do consumo de livros físicos;
- O crescimento das plataformas digitais;
- A concentração de mercado em torno de grandes e-commerces
Além disso, vale destacar que em seu auge, a Cultura chegou a operar lojas em diversas capitais brasileiras, mas os custos elevados e a queda na rentabilidade inviabilizaram a continuidade.
A derrocada da rede acompanha o destino de outras gigantes do setor, como a Saraiva, que também entrou em colapso financeiro – Conforme podem ver por aqui*.
O fechamento das unidades de Higienópolis, Pinheiros e Vila Leopoldina, todas em funcionamento até setembro de 2025:
- Simboliza o esgotamento definitivo de um ciclo;
- Coloca em dúvida a viabilidade de grandes livrarias físicas no cenário atual.
(Opinião) Ainda há saída para a Livraria Cultura?
Entretanto, a decisão judicial de outubro não representa, necessariamente, o fim jurídico da Livraria Cultura. Como se trata de um processo separado do recurso em análise no STJ, a empresa ainda pode recorrer para tentar reverter a sentença.
No entanto, especialistas em direito empresarial avaliam que, diante do histórico de inadimplências e da perda de capacidade operacional, as chances de reversão são limitadas.
Por fim, caso a liminar esperada não seja concedida, o caso poderá consolidar o encerramento definitivo de uma das marcas mais simbólicas da cultura paulistana.
Mas, para saber mais informações sobre outras falências, clique aqui.