Falência, despejo e adeus: 3 emissoras de TV, tão grandes quanto à Globo arrastadas para o buraco

Relembre a queda de três grandes emissoras brasileiras, tão populares quanto uma Globo, e o adeus mais triste da televisão brasileira.

22/09/2025 10h00

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Falência e fim de três emissoras de TV, tão populares quanto a Globo, arrasam telespectadores (Foto Reprodução/Montagem/TV Foco/Lennita/Canva/GMN/Pinterest)

Relembre a queda de três grandes emissoras brasileiras, tão populares quanto uma Globo, e o adeus mais triste da televisão brasileira

A televisão brasileira nasceu em meio aos sonhos de milhares de brasileiros. Afinal de contas, desde os anos 50, ela se tornou palco de emoções, transmissões históricas e programas que moldaram a cultura popular.

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Inclusive, poucos países abraçaram a TV com tanto entusiasmo quanto o Brasil, que inaugurou a era televisiva na América Latina com a TV Tupi, naquela mesma década.

Mas a história da TV no país não se resume apenas a glórias. Isso porque importantes emissoras, tão populares quanto a Globo, as quais chegaram a atrair multidões, tombaram de forma trágica.

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Entre as que desapareceram, três casos se tornaram símbolos da fragilidade de um sistema em que o contexto político e o cenário econômico contribuíram para esse “arrasta” ao buraco …

  • TV Continental;
  • TV Excelsior;
  • TV Tupi.

Sendo assim, com base em fontes como portal Wiki, TV História e alguns documentários registrados, trazemos abaixo um pouco da história de cada uma delas para relembrarmos.

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TV Continental:

A TV Continental entrou no ar em 1959, no Rio de Janeiro, como a terceira emissora do país. Criada pelos irmãos Carlos, Murilo e Rubens Berardo, a emissora foi inaugurada com festa, prestígio e a presença do presidente Juscelino Kubitschek, símbolo máximo do Brasil desenvolvimentista da época.

Desde o início, a Continental buscou diferenciar-se com ousadia tecnológica. Foi pioneira no uso do videotape, recurso que permitia gravar programas para posterior exibição, algo revolucionário para o período.

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Contratou grandes nomes da música popular, como Elizeth Cardoso e Agnaldo Rayol, e atraiu plateias que a colocaram em posição de destaque no cenário carioca.

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A virada:

Nos anos 70, o projeto desmoronou. A emissora começou a atrasar salários, perdeu patrocinadores e enfrentou dificuldades para manter equipamentos em funcionamento.

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Os estúdios tornaram-se precários, e relatos de artistas que chegaram a passar fome e desnutrição chocaram o público.

Mas, toda a decadência chegou ao extremo. Após ser despejada, sem sede e sem estrutura, a Continental transmitiu programas de dentro de um caminhão adaptado, um retrato cruel do que antes fora um ícone da modernização televisiva.

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A cassação e o fim

A situação chegou ao governo, o qual, na época, era comandado pelos ditadores militares, e o Conselho Nacional de Telecomunicações (Contel) recomendou a cassação da concessão, e o presidente Emílio Garrastazu Médici assinou o decreto que oficializou o fechamento.

Porém, na Justiça, a falência já havia sido decretada.

Com quem ficou o que sobrou da TV Continental?

O apresentador Silvio Santos enxergou oportunidade onde muitos só viam ruína e comprou a torre e os transmissores da Continental.

Críticos diziam que ele havia adquirido sucata, mas o equipamento se mostrou fundamental para a criação da TVS, precursora do SBT.

No entanto, a compra deu a Silvio vantagem estratégica, afinal de contas, com aqueles transmissores, ele antecipou a chegada da televisão em cores no Brasil, em 1972.

O que restou da Continental, portanto, pavimentou parte do futuro da TV brasileira.

TV Excelsior:

Fundada em meio aos ares modernos da década de 60 pelo Grupo Simonsen, a TV Excelsior começou em São Paulo, no canal 9, e rapidamente se expandiu para o Rio, no canal 2.

Seu nome remetia à grandiosidade, e não foi exagero: a Excelsior representou uma revolução na televisão.

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Com programação variada, que incluía jornalismo, esportes e entretenimento, a emissora apostou em produções sofisticadas.

Em 1963, ousou testar transmissões em cores durante o Moacyr Franco Show, muito antes da implantação oficial do sistema.

Onde a música brasileira deu seu nome:

A Excelsior lançou programas que se tornaram referências, como Show Dois da Bossa e O Brasil Canta no Rio, revelando talentos como Elis Regina e Gilberto Gil, que fariam história na MPB.

Foi também responsável por abrir espaço para o humor de Renato Aragão e Dedé Santana, que mais tarde integrariam Os Trapalhões.

O choque da censura:

No entanto, a ditadura militar, instaurada ainda em 1964, transformou a televisão em campo de batalha ideológica.

A Excelsior, considerada ousada demais e crítica em alguns de seus conteúdos, sofreu retaliações diretas. A censura cortava programas, anunciantes fugiam, e a emissora passou a acumular dívidas.

Em meio às pressões, a Excelsior perdeu força, entrou em colapso financeiro e encerrou suas atividades na década de 1970.

Para muitos historiadores, sua queda simbolizou a interferência política direta na diversidade cultural da televisão brasileira.

TV Tupi

Nenhuma emissora simboliza tanto a televisão brasileira quanto a TV Tupi.

Criada por Assis Chateaubriand, magnata dos Diários Associados, a Tupi estreou em 18 de setembro de 1950 em São Paulo, tornando o Brasil o primeiro país da América Latina a ter uma emissora de TV, conforme até citamos no início desse texto.

A Tupi foi berço de programas lendários:

  • Transmitiu a primeira telenovela nacional, “Sua Vida Me Pertence”, em 1951;
  • Levou ao ar sucessos como “O Direito de Nascer”, que paralisou cidades inteiras;
  • Criou formatos;
  • Consolidou estrelas;
  • Se tornou parte da rotina de milhões de brasileiros.

O império dos Diários Associados

Sob o comando de Chateaubriand, os Diários Associados ergueram um conglomerado que reunia jornais, rádios e emissoras de TV em várias capitais.

A Tupi, como joia da coroa, representava poder político e cultural.

Mas a morte de Chateaubriand, em 1968, marcou o início da derrocada. Sem herdeiros preparados para gerir o império, a rede entrou em colapso administrativo.

Dívidas bilionárias acumularam-se, e a falta de liderança abriu brechas para concorrentes como a Globo, que avançaram rapidamente.

Greves, incêndios e escândalos

Para piorar ainda mais, nos anos 70, a situação da Tupi beirava o caos. Funcionários entravam em greve por salários atrasados.

Houve incêndios em estúdios que destruíram equipamentos e agravam ainda mais o déficit.

Além disso, escândalos administrativos e denúncias de má gestão corroíam a confiança.

Como foi o adeus da TV Tupi?

No dia 18 de julho de 1980, o governo militar decidiu cassar as concessões da Tupi, o que foi o golpe final. A emissora transmitiu ao vivo sua própria despedida, com funcionários e artistas protestando diante das câmeras.

O jornalista Rodolfo Bonventti, da Associação dos Pioneiros da Televisão Brasileira, resumiu:

“Quando o Chatô morreu, não deixou um herdeiro. Não havia ninguém que soubesse administrar aquele império, formado por rádio, TV, jornal e revista.”

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O adeus da Tupi não foi apenas o fechamento de uma emissora. Foi o fim de uma era. Milhões de brasileiros, que cresceram acompanhando sua programação, sentiram-se órfãos.

Por fim, mesmo diante dos protestos de intelectuais, artistas e telespectadores comuns, os quais eram contra esse fechamento, esse desfecho trágico foi inevitável.

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O que aconteceu com o que sobrou da TV Tupi?

Do espólio da Tupi nasceram novas oportunidades. Parte de suas concessões foi destinada a Silvio Santos, que fundou o SBT, e a Adolpho Bloch, criador da Manchete.

A queda de Continental, Excelsior e Tupi mostra que a televisão, apesar de sua força, também é vulnerável às pressões econômicas, políticas e administrativas.

Legado das falências:

  • A Continental revelou como a falta de gestão pode arrastar até os maiores talentos para a penúria;
  • A Excelsior mostrou como regimes autoritários podem sufocar a inovação cultural;
  • A Tupi escancarou o drama humano de funcionários e artistas que viveram ao vivo o fim da emissora que inventou a TV brasileira.

Ademais, essas histórias não desapareceram. Elas permanecem como lembrança nostálgica de uma época em que a televisão era símbolo de modernidade, mas também como lição amarga de que nenhum império midiático é indestrutível.

Mas, para saber mais histórias nostálgicas como essa, clique aqui*.

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Autor(a):

Jornalista com formação em Moda pela Universidade Anhembi Morumbi e experiência em reportagens sobre economia e programas sociais. Com olhar atento e escrita precisa, atua na produção de conteúdo informativo sobre os principais acontecimentos do cenário econômico e os impactos de benefícios governamentais na vida dos brasileiros. Apaixonada por dramaturgia e bastidores da televisão, Lennita acompanha de perto as movimentações nas principais emissoras do país, além de grandes produções latino-americanas e internacionais. A arte, em suas múltiplas expressões, sempre foi sua principal fonte de inspiração e motivação profissional.

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