Lícia Manzo conta quem são as inspirações para escrever, e como foi a escolha do elenco de “Sete Vidas”

Lícia Manzo estreou como autora aos 15 anos, assinando o primeiro texto encenado pelo grupo Além da Lua, fundado por ela e vencedor do Prêmio Molière como o melhor grupo de teatro para crianças, em 1984. Há quase 20 anos na Globo, escreveu para os humorísticos ‘Sai de Baixo’, ‘Retrato Falado, ‘A Diarista’, entre outros, e foi criadora do seriado ‘Tudo Novo de Novo’, com direção geral de Denise Saraceni, em 2009. Em 2011, emplacou sua primeira novela, ‘A Vida da Gente’.
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Mestre em Literatura Brasileira pela PUC/Rio, publicou o ensaio biográfico “Era uma vez: eu – a não-ficção na obra de Clarice Lispector”, indicado para o Prêmio Jabuti, em 2003. Autora do sucesso teatral “A História de Nós 2” (indicado para o Prêmio Shell na categoria melhor texto), e do espetáculo “Aquela Outra”, com direção de Clarice Niskier.
Em recente entrevista para a Globo, Lícia Manzo contou quem são suas inspirações para escrever, e como foi a escolha do elenco da trama.
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Sete Vidas trata de um tema contemporâneo que são os novos arranjos familiares. Como foi trazer esse tema para uma novela?
Relações humanas, familiares, tendem a ser, desde sempre, meu principal interesse. No caso de ‘Sete Vidas’, o que me capturou foi a possibilidade de repensar a noção de família a partir de um acontecimento real: um site onde meio-irmãos gerados via doador anônimo são capazes de se encontrar. Ao assistir, por conta da pesquisa que empreendi para este projeto, ao documentário inglês Donor Unknown, que registra o encontro real de 12 meio-irmãos nos Estados Unidos, o que me mobilizou foi a disponibilidade afetiva daquele grupo de jovens até então desconhecido, com backgrounds financeiros, culturais, familiares, absolutamente diversos.
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Em um primeiro momento, os irmãos têm em comum apenas o componente genético. O que os mantêm unidos?
Num mundo onde a competição e o individualismo parecem cada vez mais ganhar terreno, o movimento desses irmãos segue na direção contrária, buscando conexão, pertencimento. No que diz respeito às novas famílias, penso que onde falta tradição é o afeto que irá legitimar todos os laços.
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E o lado do doador nesse processo?
Em ‘Sete Vidas’ parto da possibilidade dramática de um jovem que teria feito estas doações como forma de ajudar no próprio sustento. Nos Estados Unidos, recebe-se, em média, 100 dólares por doação. No caso de Miguel, nosso protagonista, ele é expulso da casa do pai aos 16 anos e viaja sozinho para Los Angeles, onde, num ato pouco refletido, opta por fazer as tais doações. O que jamais poderia prever, no entanto, é que 30 anos depois as sete vidas geradas por ele desta forma iriam cruzar seu caminho.
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Essas novas formações familiares são ainda pouco discutidas pelas pessoas. Como você se preparou para abordar a questão?
Com muita pesquisa, naturalmente, já que parto de uma situação real. As liberdades da ficção existem, mas não podem desconsiderar as necessidades da verossimilhança. De todo modo, meu preparo para abordar a questão foi, sobretudo, de ordem interna – ao pensar e refletir longamente sobre o assunto. Em ‘A Vida da Gente’ havia a questão do coma da protagonista que nos remetia a um lugar incômodo: o coma parece estacionado na fina fronteira entre vida e morte, e a verdade é que estamos habituados a um modo de pensamento simplificador ou binário: ou a pessoa está viva ou morta. Mas e quando alguém não está propriamente vivo nem morto? E quando surge a possibilidade de uma família que abarca 7, 20, 80 meio-irmãos até então desconhecidos? Temas como esses me fascinam pela impossibilidade de marcarmos um ‘X’ na resposta correta. Não há resposta certa, adequada, nesses casos. O que existem são perguntas, me parece, capazes de chacoalhar nossas crenças e convicções mais profundas.
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Como foi a escolha do elenco?
Um processo muito harmônico meu e do Jayme na busca por atores que pudessem contribuir com certa carga de realismo. Há em ‘Sete Vidas’ o desejo de evitar um excesso de ‘glamourização’ que poderia trair a intenção de aproximar os personagens de algo familiar, reconhecível para o publico.
Este é o seu segundo trabalho com o Jayme Monjardim. Como é essa parceria?
Muito feliz e produtiva. Assim como eu, Jayme é extremamente detalhista e temos intimidade e confiança suficiente para botar na mesa nossos pontos de vista e discordar quando necessário – o que para mim é a base de uma parceria verdadeira.
Quem são as suas inspirações para escrever? E de que forma elas influenciam no seu processo autoral?
Um balaio desordenado de inspirações, que me influenciam inteiramente. A novela é um processo acelerado, industrial, e a sensibilidade, a inspiração, costumam ser atributos do ócio. Por isso gosto de trabalhar em casa, ao alcance dos meus livros, aos quais recorro quando me sinto esvaziada. Às vezes um trecho sublinhado da Clarice, do Pessoa, me sintoniza e ampara na construção de uma cena. Fragmentos de conversas com meus amigos, minha filha. Coisas que me disseram e que seguem comigo porque me tocam. Ouvir uma canção que evoque para mim um determinado sentimento: a música tem o poder de te transportar para outro lugar, outro registro. Mas por detrás destes suportes algo etéreos, existe a referência concreta das novelas que vi e que me formaram: ‘A Escrava Isaura’, ‘Vale Tudo’, ‘Laços de Família’, entre tantas outras. Assim como a novidade que são essas séries maravilhosas, e por isso vou citar algumas que fizeram minha cabeça e coração: ‘My So Called Life’, ‘Once and Again’; ‘Enlightened’; ‘The Slap’…
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Autor(a):
Vitor
Formado em jornalismo, foi um dos principais jornalistas do TV Foco, no qual permaneci por longos anos cobrindo celebridades, TV, análises e tudo que rola no mundo da TV. Amo me apaixonar e acompanhar tudo que rola dentro e fora da telinha e levar ao público tudo em detalhes com bastante credibilidade e forte apuração jornalística.