Pioneira no varejo de eletrodomésticos teve a falência decretada e foi absorvida pela Casas Bahia após crise devastadora
Durante décadas, o setor de eletrodomésticos exerceu papel essencial no desenvolvimento econômico e social do Brasil. Afinal de contas, as grandes redes varejistas popularizaram o acesso a bens de consumo duráveis, impulsionaram o crédito e transformaram o ato de comprar em um símbolo de ascensão social.
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Entre esses nomes, destacou-se a Ultralar, uma das pioneiras do varejo moderno e símbolo de uma época em que o consumo e o progresso caminhavam juntos.
Fundada em 1956 por Ernesto Igel, também criador da Ultragaz, a Ultralar nasceu com a missão de popularizar o fogão a gás, um produto (por incrível que pareça) ainda restrito à elite, para fortalecer o mercado de gás de cozinha, principal negócio do grupo.
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Felizmente, o projeto deu certo e, em pouco tempo, a empresa se tornou referência nacional em eletrodomésticos e itens para o lar, construindo uma imagem sólida e inovadora no mercado.
No entanto, o que começou como uma história de sucesso exemplar terminou com falência decretada pela Justiça e absorção pela Casas Bahia, no início dos anos 2000.
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O colapso da Ultralar expôs o impacto das mudanças estruturais no varejo e encerrou um dos capítulos mais emblemáticos da história comercial brasileira.
Sendo assim, baseados em informações do portal Wiki, Estadão, Diário do Grande ABC, Varejo em Dia e registros publicados da 6ª Vara de Falências e Concordatas do Rio de Janeiro, mergulhamos novamente nessa história e trazemos todos os detalhes desse adeus abaixo.
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Do fogão à fama
Conforme destacamos acima, a criação da Ultralar marcou um ponto de virada no comércio brasileiro. Ernesto Igel percebeu que o crescimento da Ultragaz dependia diretamente da expansão do uso doméstico do fogão a gás.
A solução foi simples e estratégica: abrir lojas que vendessem os fogões e demais utensílios domésticos, fortalecendo o consumo do principal produto da empresa.
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Com o tempo, as Lojas Ultralar se tornaram símbolo de modernidade e eficiência.
O slogan “Na Ultralar dá pé” entrou para o imaginário popular e consolidou a marca como uma das mais lembradas do país.
Nos anos 60, a rede passou a patrocinar o telejornal Ultra Notícias, exibido na TV Tupi, reforçando sua presença nacional.
Em 1970, suas ações chegaram a integrar o Índice Bovespa (Ibovespa) até 1973, o que demonstrava a força e o reconhecimento do grupo no mercado financeiro.
Um salto ousado
Em 1974, a Ultralar expandiu seu modelo de negócios e inaugurou o Ultracenter Ultralar, na Marginal Pinheiros, em São Paulo.
O empreendimento seguia a tendência dos grandes magazines e misturava loja de eletrodomésticos com centro de compras, em formato de hipermercado.
O projeto, embora ambicioso, exigia capital e operação complexa.
Apenas um ano depois, em 1975, o grupo vendeu o Ultracenter ao Carrefour, que acabava de chegar ao Brasil, atraído pelo potencial de consumo e pela pouca concorrência nacional.
O episódio simbolizou o início de uma fase de reavaliação estratégica dentro do Grupo Ultra.
Reestruturações e venda da operação
A partir dos anos 80, o Grupo Ultra decidiu concentrar esforços em seus segmentos principais: gás e petroquímica.
Mas, com isso, se iniciou uma política de desinvestimento.
Dentro dessa estratégia, a rede Ultralar, com 44 lojas distribuídas entre:
- São Paulo;
- Rio de Janeiro;
- Rio Grande do Sul.
Posteriormente, foi vendida ao Grupo Susa Vendex, resultado da fusão entre:
- Victor Malzoni;
- O grupo holandês Vendex;
- Também controlador das lojas Sandiz e Sears.
Sob a nova gestão, a marca adotou o nome Ultralar & Lazer, incorporando lojas da Sears e buscando atrair novos perfis de consumidores.
Contudo, as mudanças não sustentaram a operação.
Com a dissolução da parceria entre Malzoni e Vendex no início da década de 1990, a administração se fragmentou, e concorrentes como Casas Bahia e Ponto Frio dominaram o mercado.
Além disso, a hiperinflação e as constantes trocas de moeda reduziram o poder de compra da população e aumentaram significativamente os custos operacionais das empresas.
Como dois mais dois é quatro, as dificuldades financeiras começaram a se acumular, e a Ultralar não conseguiu acompanhar o ritmo de transformação do varejo.
Dívidas e falência decretada
No início dos anos 2000, com apenas 17 lojas em funcionamento, a Ultralar já enfrentava grave crise financeira.
Essa situação chegou ao limite em 8 de maio de 2000, quando o juiz Marcel Laguna Duque Estrada, da 6ª Vara de Falências e Concordatas do Rio de Janeiro, decretou oficialmente a falência da Ultralar.
A Anis Razuk Indústria e Comércio Ltda., fornecedora paulista de produtos de cama e mesa, moveu em 25 de outubro de 1999 ação cobrando dívida de R$148,2 mil.
A decisão judicial encerrou uma trajetória de quase meio século e deixou evidente a dificuldade da rede em se adaptar às novas dinâmicas de crédito e de consumo.
Inclusive, o Diário do Grande ABC noticiou amplamente o colapso financeiro e destacou que a empresa não conseguiu liquidar suas dívidas nem manter suas operações.
Até o encerramento do processo, não foram encontradas declarações públicas sobre o caso de falência.
Nenhuma defesa ou posicionamento formal foi divulgado à imprensa ou anexado ao processo judicial. No entanto, embora o passar do tempo, o espaço segue em aberto para possíveis manifestações.
O que aconteceu com o que sobrou da Ultralar?
Pouco antes da falência, a Ultralar tentou vender suas operações para evitar o fechamento.
Houve negociações com o Ponto Frio e a Casas Bahia, mas apenas a segunda avançou.
Em maio de 2000, já sob intervenção judicial, a Casas Bahia adquiriu integralmente a Ultralar, incorporando todas as suas lojas e ativos.
A operação marcou a absorção total da rede, ou seja, fez com que ela fosse engolida pela varejista e, assim, sumir de vez do mapa.
A transação consolidou a Casas Bahia como maior varejista de eletrodomésticos do país e reforçou sua liderança em um setor em transformação tecnológica e financeira.
A Casas Bahia não emitiu comunicado público específico sobre a compra das unidades da Ultralar na época, e não foram localizadas manifestações oficiais sobre a incorporação.
Por fim, a falência da Ultralar não se limitou a um problema administrativo. Ela marcou o fim de uma era do varejo brasileiro, quando grandes magazines, antes sustentados pela confiança do consumidor, sucumbiram à revolução do crédito.
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