Emissora de TV icônica, após dívidas bilionárias e crise financeira, encerrou suas atividades e leiloou seu acervo por mixaria Desde os primeiros aparelhos instalados nas salas de estar, a televisão moldou a cultura, a economia e até o imaginário social brasileiro. Mais do que entretenimento, ela se tornou uma força formadora de opinião, um elo entre diferentes classes sociais e uma vitrine da identidade nacional. Em meio a gigantes como Globo, SBT e Record, surgiram emissoras que ousaram inovar e desafiar o padrão, entre elas, a TV Manchete, um canal que redefiniu o conceito de qualidade na TV brasileira e marcou época. Infelizmente, o canal se despediu em meio às dívidas e falência. Sendo assim, com base no portal Wiki e portal F5, trazemos abaixo mais detalhes desse fim e o legado deixado por ela. Um império nas telinhas Fundada em 1983 pelo empresário Adolpho Bloch, o mesmo responsável pelo Grupo Bloch Editores, a TV Manchete nasceu com o propósito de oferecer uma televisão sofisticada, cultural e moderna. Instalada em um prédio projetado por Oscar Niemeyer, na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, a emissora rapidamente se destacou pelo alto padrão de produção e pela estética cinematográfica de suas novelas e programas. Durante os anos 80 e início dos 90, a Manchete se tornou um dos pilares da teledramaturgia nacional. Produções revolucionaram o gênero e desafiaram a hegemonia da Globo, como: Dona Beija (1986); Kananga do Japão (1989); A História de Ana Raio; Zé Trovão (1990); Xica da Silva (1996); Principalmente Pantanal (1990) A emissora também revelou nomes que se tornaram ícones da cultura pop, como Xuxa Meneghel e Angélica, e consolidou uma imagem de vanguarda artística e editorial. A crise que abalou o sonho Mas o colapso da Rede Manchete chegou em maio de 1999, deixando um rastro de prejuízos incalculáveis. Além disso, o canal deu adeus às telinhas mergulhado em processos e dívidas que ultrapassavam meio ano de salários devidos a mais de 1.500 colaboradores, sem contar o imenso passivo fiscal. De acordo com o Notícias da TV, a situação ficou ainda mais dramática: nos últimos anos, fatores como o câmbio e a taxa de juros elevaram o débito a R$ 1 bilhão, conforme dados da PGFN, afundando ainda mais nas dívidas. Vale destacar que a Rede Manchete encerrou suas atividades e saiu do ar em 10 de maio de 1999, mas o processo de falência e a quitação das dívidas se arrastam na Justiça até hoje - Conforme explicaremos mais adiante. https://youtu.be/5L8RmttgACU?si=TUP6Fcnwkcfjh6aq O leilão do acervo e da sede histórica Vale destacar que o emblemático edifício projetado por Niemeyer, sede da TV Manchete, foi leiloado em 2008 por R$ 65 milhões e arrematado pela empresa Victória Vic Transporte e Logística, do Espírito Santo. Já o acervo da emissora foram vendidos em dezembro de 2021 por uma mixaria de R$ 500,5 mil em um leilão online, composto por: Mais de 25 mil fitas originais, incluindo novelas e programas; A marca “TV Manchete” Mas a identidade do comprador não foi revelada. Ainda endividada: No entanto, o calote da antiga emissora ganhou proporções bilionárias. Mesmo após seus 25 anos fora do ar, a TV Manchete Ltda., por meio de oito CNPJs ativos, ainda devia um total de R$ 1,324 bilhão, conforme exposto pelo F5. O valor que mais pesa é o que a Manchete deve aos seus trabalhadores: cerca de R$ 593,7 milhões de salários, 13º e férias nunca quitados. https://youtu.be/VUlYiu0Gdng?si=mHYnTwag-X7egTTF Apesar dos números, os atuais responsáveis pela empresa, quando procurados, preferiram não se manifestar. A Netflix chegou a ser citada em 2021 em meio a boatos de que pensava em refilmar Dona Beija. Embora o Notícias da TV tenha desmentido o interesse, a plataforma teria recuado por problemas com direitos conexos. Ademais, o advogado da massa falida da Manchete confirmou que esses direitos estão à venda, dizendo: "Entendo que os direitos [de produções até 1995] são da massa falida de TV Manchete e dela devem ser adquiridos." O que aconteceu com as concessões da Manchete? Após o fim das operações, as concessões da Manchete foram transferidas para os empresários Amilcare Dallevo Jr. e Marcelo de Carvalho, que lançaram a RedeTV! Alguns conteúdos, como Pantanal, ainda circularam por outras redes. O SBT adquiriu os direitos de exibição da novela e a reprisou em 2018, enquanto a Globo produziu um remake em 2022. MAS ATENÇÃO! Em uma decisão final confirmada no dia 13 de maio de 2012, pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, a RedeTV! ficou isenta de arcar com as dívidas da extinta Rede Manchete. De acordo com a F5, em entrevista concedida também no ano de 2012, o até então superintendente Dennis Munhoz afirmou que "não existe sucessão [das dívidas] nem cível, nem fiscal nem trabalhista". Além disso, a RedeTV! argumentou que herdou apenas a concessão e, por isso, não precisava assumir as pendências da emissora falida, mesmo já tendo pago R$ 70 milhões de dívidas que não eram deles, principalmente trabalhistas. Mas, apesar de se livrar das demais dívidas, na época, a emissora também alegou que entraria com recurso para recuperar os valores pagos indevidamente. As ruínas de um símbolo cultural: Em 2021, um registro feito pelo canal Nosy Drone, no YouTube, mostrou os estúdios abandonados, ainda com cenários, negativos fotográficos e móveis cenográficos originais. As imagens revelaram um retrato melancólico de uma emissora que, um dia, foi símbolo de inovação e arte. Apesar de o local não estar totalmente destruído, há marcas de invasões e pichações, reflexo do abandono de um espaço que, outrora, foi sinônimo de glamour e relevância cultural. Veja o vídeo abaixo: https://youtu.be/lnZpOZAjsl8?si=xa0nL_meguifTC3R Legado: Mas, mesmo com a falência e o desaparecimento físico, a TV Manchete permanece viva na memória coletiva dos brasileiros. Seu legado está nas novelas que marcaram gerações, nos artistas que revelou e no ideal de uma televisão feita com ousadia, criatividade e respeito à inteligência do público. Por fim, mais do que uma emissora, a Manchete representou um período em que a TV brasileira ousava ser arte e, por isso mesmo, nunca será esquecida. Ademais, ao procurar declarações extras sobre o ocorrido, as mesmas não foram encontradas. No entanto, o espaço segue em aberto. Mas, para mais informações e casos similares, clique aqui*.