Jonathan Azevedo é contratado da TV Globo. (Foto: TV Globo)

A TV Globo resolveu se ‘armar’ após toda polêmica no início do ano em torno da novela Segundo Sol, que se passa na Bahia, mas não tem um número grande de atores negros na história. Confusões a parte, a direção da emissora já interveio e tomou uma atitude.

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De acordo com informações do portal UOL, a emissora carioca renovou contrato com sete atores negros, dando a eles um vínculo de longo prazo e a possibilidade de estar nas próximas produções do canal. As partes, no entanto, não entregam quanto tempo dura o acordo.

Ícaro Silva é uma das apostas da Globo. (Foto: Reprodução)

David Junior, o Menelau de Pega Pega, Jonathan Azevedo, o Sabiá de A Força do Querer, Ícaro Silva, no elenco da novela Verão 90, Érico Brás, o Jurandir de Tapas & Beijos, Heslaine Vieira, a Ellen de Malhação: Viva a Diferença, e Danilo Ferreira, o Acácio de Segundo Sol, são as grandes apostas da emissora e figuram entre os atores de contrato longo.

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Na lista ainda consta o nome do veterano Ailton Graça, na emissora desde 2005, e escalado para ser um dos guardiões na nova novela das nove da Globo, O Sétimo Guardião.

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Logo da Globo. Foto – reprodução.

Toda metida a ‘politicamente correta’ e ‘inclusiva’, a Globo acabou sendo acuada pelo Ministério Público por ter poucos atores negros no elenco de Segundo Sol, atual novela das nove. O que seria apenas uma simples hipocrisia do canal acabou indo mais longe e deu muito o que falar.

A notificação recomendatória enviada à Globo dava prazo de dez dias para a emissora propor alguma solução aos questionamentos sobre a escalação de um elenco majoritariamente branco em “Segundo Sol”, uma novela ambientada em Salvador, cidade com população, em sua maioria, formada por negros, mulatos e pardos.

E a Globo respondeu à notificação, mas desagradou: “A resposta que veio é muito aquém do que se pretendia”, disse a procuradora Valdirene. “Foi uma explicação da Globo sobre as suas escolhas. A emissora não reconhece a existência de discriminação ou sub-representação”.

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O MPT, então, diz Valdirene, decidiu acompanhar a ação judicial que a União de Negros pela Igualdade (Unegro) está movendo contra a Globo na Justiça na Bahia. Na ação, a entidade pede “a incorporação da real proporcionalidade da população negra do Estado no elenco da novela”. Com informações do UOL.

Vale dizer que o tema divide bastante a opinião das pessoas. Ao que parece, a grande maioria é contra essa imposição de se colocar negros “à força” nas emissoras, uma vez que elas são empresas privadas, mesmo sendo concessões públicas. Uns dizem que o ato é uma ‘palhaçada’; outros defendem.

SBT E RECORD TAMBÉM SÃO NOTIFICADAS:

De acordo com informações do jornalista Maurício Stycer, SBT e Record também receberam o “puxão de orelha” e foram notificadas. As duas emissoras têm o prazo de 45 dias para dar uma resposta convincente para o MP.

Na notificação, a Coordenadoria Nacional de Promoção de Igualdade de Oportunidade e Eliminação da Discriminação no Trabalho (Coordigualdade) do MT enviou recomendações às emissoras.

Entre elas: elaboração de um Plano de Ação que contemple medidas para garantir a inclusão, a igualdade de oportunidades e de remuneração da população negra nas relações de trabalho; a realização imediata de um censo entre os trabalhadores que prestam serviços à empresa, com recorte de raça/cor e gênero; um levantamento da quantidade de artistas negros e negras que aparecem em telenovelas, séries, propagandas, programas de entretenimento, entre outros produtos, produzidos pela empresa bem como o de jornalistas e comentaristas.

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A atriz Ruth de Souza na TV. (Foto: Reprodução)

Negra e com 97 anos, a atriz Ruth de Souza, que recentemente foi ao ar em um episódio de Mister Brau, não foi politicamente correta e nem se colocou na posição de vítima ao falar do racismo de hoje em dia.

Ao Uol, ela contou: “Está bem diferente de antes, agora está melhor, temos mais atores e atrizes [negros] e [as novelas] estão misturando casamento de negro e branco, tem até juíza [negra]”.

E acrescentou: “A carreira de ator é ruim para qualquer um. Acho ridículo e esquisito o brasileiro discutir sobre negros e brancos. Na minha família, por exemplo, tem negro, japonês, tem um monte de raças. Eu acho que precisamos gostar é do ser humano, não importa a raça dele”.

Ruth, que diz nunca ter sofrido com racismo –“ou se sofri, eu não vi”– cita como exemplos de representatividade na televisão, além da juíza Raquel, interpretada por Erika Januza em “O Outro Lado do Paraíso”, a jornalista Maju Coutinho, do jornal Nacional.

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Já para Sidney Santiago, ator, pesquisador e ativista, a televisão tem se tornado a ferramenta mais eficaz para a manutenção do racismo. “Quando o povo não se vê, não se acha merecedor de direitos. Nós, atores negros, ainda estamos atrelados a uma rubrica. São 200 personagens em uma novela, você tem três negros, e todos eles são pessoas desumanizadas, que não têm a sua história contada”.

E acrescentou: “O problema não é ser empregada doméstica negra, o problema é essa empregada doméstica negra não ter família, não ter afetividade, ser despolitizada. É contra isso que nós precisamos lutar”, afirma ele, que participou de novelas como Caminho das Índias e Escrava Mãe, da Record.

Ele ainda afirma que não acredita na tentativa real de mudança por parte dos canais de TV. “Eu não vejo uma mobilização real. Não estou falando de factoide, de produção de nota, de campanhas de inclusão de um dia para a noite. O que a gente está vendo é isso: a partir de um clamor social, uma mobilização, mas, para mim, ainda não é uma mobilização real. São factoides para tentar se relacionar com o clamor público”.

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Aline Dias fará “Malhação” (Foto: Divulgação)

Por muitos anos, os negros foram deixados de lado na teledramaturgia brasileira. Com poucos personagens, eles acabavam ficando apenas na pele de empregados, escravos, e moradores de comunidades carentes, apenas com papéis coadjuvantes.

No entanto, aos poucos, isso vem mudando. A primeira protagonista negra de um folhetim brasileiro foi apenas em 1996, na Rede Manchete, com Taís Araújo interpretando “Xica da Silva”. Na Globo, por sua vez, a primeira novela foi “Da Cor do Pecado” (2004).

Neste ano de 2016, as produções passaram a contar com mais diversidade na pele dos protagonistas, e até o fim do ano, pelo menos seis tramas contarão com negros na pele do papel principal. A primeira delas é “Velho Chico”, a atual novela das nove.

Camila Pitanga está em “Velho Chico” (Foto: Divulgação)

Ela conta com Camila Pitanga como a protagonista Maria Tereza. Depois, na Record, vem Gabriela Moreyra, como a primeira negra a contar com um papel principal em uma novela na emissora. Ela protagoniza “Escrava Mãe”, que aborda o período da escravatura.

Gabriela Moreyra, protagonista de “Escrava Mãe” (Foto: Divulgação)

Na atual novela das seis, “Eta Mundo Bom”, a atriz Débora Nascimento interpreta a protagonista Filomena, par romântico de Candinho. Ela é uma moça simples, vítima de um golpe no início da novela, e agora, está afastada do seu grande amor.

Débora Nascimento está em “Eta Mundo Bom” (Foto: Divulgação)

A partir de agosto, a novela “Malhação”, pela primeira vez, escalou uma atriz de pele escura para a sua nova, cujo título será “Pro Dia Nascer Feliz”. Trata-se de Aline Dias, que já participou da série “Sexo e as Negas” e da novela “Sangue Bom”, em 2013.

Protagonistas de “Mister Brau” (Foto: Globo/Sergio Zalis)

E não para por aí. A série “Mister Brau”, exibida nas noites de terça-feira, conta com Taís Araujo e Lázaro Ramos nos papéis principais. Por fim, em “Justiça”, que entra no segundo semestre no horário das 23h, a atriz Jéssica Ellen fará uma das protagonistas.

Jéssica Ellen será Rose, uma das protagonistas (Foto: Globo/Estevam Avellar)

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“I Love Paraisópolis” conta com vários atores brancos (Foto: Globo/João Miguel Júnior)

Sucesso de audiência, a novela das 7, “I Love Paraisópolis”, tem sido alvo de controvérsias. Ambientada em uma comunidade de São Paulo, a favela Paraisópolis, a trama vai contra a realidade e não conta com negros nos papéis principais.

De acordo com o portal Terra, os autores Alcides Nogueira e Mário Teixeira não levam em conta que a região possui quase 56 mil habitantes e, de acordo com o último censo do IBGE, 70% da sua população se auto-declara com pele negra.

No folhetim da Globo, no entanto, dos 52 atores do elenco principal, somente seis são considerados negros. Juliana Gonçalves Rodrigues, da União dos Moradores e Comerciantes de Paraisópolis, destaca que o motivo vem lá de trás.

“Acho que esse é um problema instalado no Brasil e no mundo. Ainda tem um reflexo de 500 anos atrás de preconceito, e é algo que os movimentos vão lutando para que isso possa ser modificado. Infelizmente isso ainda rola”, afirma ela.

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Nas novelas da emissora, protagonistas de pele negra acabam enfrentando algumas barreiras, como foi em 2011, na novela “Insensato Coração”, de Gilberto Braga. Lázaro Ramos interpretou o galã André e acabou sendo motivo de piada.

A trama conta com apenas seis personagens negros (Foto: Montagem)

No programa “Pânico”, os comediantes fizeram o quadro Lázaro Ramos da Vida Real, onde um humorista negro, pouco acima do peso, com roupas largas e barba, dava cantadas grosseiras em mulheres nas orlas do Rio de Janeiro e levava foras.

Enquanto isso, os galãs das demais novelas não ganharam o mesmo quadro. “Nós não queremos mais ser representados só no papel de empregada doméstica, de faxineiro, zelador”, afirma Juliana. Os moradores, por sua vez, afirmam não se sentirem representados.

Grego (Caio Castro), Marizete (Bruna Marquezine) e os demais não representam a identidade daqueles milhares de habitantes, segundo uma pesquisa feita no local. A novela, entretanto, trouxe bons frutos para a comunidade, promovida pela Globo.

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No geral, ver a região representada em uma novela das 19h é gratificante para os moradores, que se sentem vistos pela cidade sem os rótulos de violência e degradação que filmes anteriores e programas policiais passam dos bairros periféricos.

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